DESAFIOS A MOÇAMBIQUE: nação e narrativas pós-coloniais

  • Maria Paula Meneses Universidade de Coimbra

Resumo

A constituição mútua do Norte e do Sul e a natureza hierárquica das relações Norte-Sul permanecem cativas da persistência das relações capitalistas e imperiais. No Norte global, os ‘outros’ saberes, para além da ciência e da técnica, têm sido produzidos como não existentes e, por isso, radicalmente excluído da racionalidade moderna. Os agentes que produzem estes saberes metamorfosearam-se, pela ação da moderna ciência, em portadores de conhecimentos secundários, em não-seres: objetos subalternos, sem direito à voz (SPIVAK, 1988). Este encontro colonial, no âmago do qual se encontra a racionalidade moderna, gerou não apenas zonas iluminadas; pelo contrário, é produtora permanente de zonas sombrias, assinalando que a racionalidade moderna é geradora não apenas da ciência e da técnica, mas também de uma lógica capitalista impessoal e devastadora, de uma ordem política desigual e monocultural (SANTOS, MENESES e NUNES, 2005, p. 33-34).

Biografia do Autor

Maria Paula Meneses, Universidade de Coimbra
Possui graduação em História pela Faculdade de História da Universidade de S. Petersburgo, Rússia.(1987) e doutorado em Antropologia pela Rutgers University, EUA(1999). Tem experiência na área de Antropologia.

Ø  Possui graduação em História pela Faculdade de História da Universidade de S. Petersburgo, Rússia.(1987) e doutorado em Antropologia pela Rutgers University, EUA(1999). Tem experiência na área de Antropologia.

Referências

ABU-LUGHOD, Janet. Before European Hegemony: the World-System, AD. 1250-1350. New York: Oxford University Press, 1989.

AHMAD, Aijaz. In Theory. London: Verso, 1992.

ANDERSON, Benedict. Imagined Communities. London: Verso, 1983.

BALANDIER, Georges. “La situation coloniale: ancien concept, nouvelle réalité”, French Politics, Culture & Society, 20 (2), p. 4-9. 2002.

BHABHA, Homi. Nation and Narration. London: Rouledge, 1990.

BOEHMER, Elleke. Colonial and Postcolonial Literature. Migrant metaphors. Oxford: Oxford University Press, 1995.

BORGES COELHO, João Paulo. A ‘Literatura Quantitativa’ e a Interpretação do Conflito Armado em Moçambique (1976-1992). Trabalho apresentado à Conferência Internacional Pobreza e Paz nos PALOP. Lisboa: Centro de Estudos Africanos ISCTE-IUL, Novembro de 2009.

BORGES COELHO, João Paulo. “Notas em Torno da Representação Africana de África (ou alguns dilemas da historiografia africana)”. In Rodrigues, José Damião; Rodrigues, Casimiro (org.) Representações de África e dos Africanos na História e Cultura – Séculos XV a XXI. Ponta Delgada: Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores, p. 281- 290, 2011.

BOSE, Sugata. A Hundred Horizons: the Indian Ocean in the age of global empire. Cambridge: Harvard University Press, 2006.

BRAGANÇA, Aquino de. “Le Marxisme de Samora”, Afrique Asie, 217 (8 de Julho), p. xix-xxii, 1980.

BRAGANÇA, Aquino de; DEPELCHIN, Jacques. “Da Idealização da FRELIMO à Compreensão da História de Moçambique”. Estudos Moçambicanos, 5/6, p. 29–52, 1986.

CHAKRABARTY, Dipesh. “Who Speaks for ‘Indian’ Pasts?” Representations, 37, p. 1-26. 1992.

CHAUDHURI, Kirti N. Trade and Civilization in the Indian Ocean: an economic history from the rise of Islam to 1750. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

CESAIRE, Aimé. Discours sur le Colonialisme. Paris: Présence Africaine, 1955.

DUSSEL, Enrique. 1492 - El Encubrimiento del Otro: hacia el origen del ‘mito de la modernidad’. La Paz: Plural Editores, 1994.

FABIAN, Johannes. Time and the Other: how anthropology makes its object. New York: Columbia University Press, 1983.

FIRMINO, Gregório. Processo de transformação do Português no contexto pós-colonial de Moçambique. Comunicação apresentada ao Colóquio - Português, Língua Global. Maputo: Março de 2008.

HO, Engseng. The Graves of Tarim: genealogy and mobility across the Indian Ocean. Berkeley: University of California Press, 2006.

HOBSBAWM, Eric. Nations and Nationalism since 1780. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.

JOÃO, Mutimati Barnabé. Eu, o Povo. Lisboa: Biblioteca Editores Independentes, 2008.

LOMBARD, Denys; AUBIN, Jean (org.). Marchands et Hommes d'affaires Asiatiques dans L’Océan Indien et la Mer de Chine, 13e-20e siècles. Paris: Editions EHESS, 1988.

MAMA, Amina. “Is It Ethical to Study Africa? Preliminary Thoughts on Scholarship and Freedom”, African Studies Review, 50 (1), p. 1-26, 2007.

MCCLINTOCK, Anne. Imperial Leather: race, gender and sexuality in the colonial contest. London: Routledge, 1995.

MCPHERSON, Kenneth. The Indian Ocean: a history of people and the sea. New Delhi: Oxford University Press, 1998.

MALDONADO-TORRES, Nelson. “On the Coloniality of Being”, Cultural Studies, 21 (2), p. 240-270, 2007.

MENDONÇA, Fátima. “O conceito de nação em José Craveirinha, Rui Knopfli e Sérgio Vieira”. In Les littératures africaines de langue portugaise, Actes du Colloque International. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, p. 407-416, 1985.

MENESES, Maria Paula. “Mundos Locais, Mundos Globais: a diferença da história”. In CABECINHAS, Rosa; CUNHA, Luis (org.) Comunicação Intercultural: perspectivas, dilemas e desafios. Porto: Campo das Letras, p.75-93, 2008.

MENESES, Maria Paula. “Images Outside the Mirror? Mozambique and Portugal in World History”, Human Architecture, 9, p. 121-137, 2011.

MENESES, Maria Paula; SENA MARTINS, Bruno (org). As Guerras de Libertação e os Sonhos Coloniais: Alianças secretas, mapas imaginados. Coimbra: Almedina, 2013.

MENESES, Maria Paula; RIBEIRO, Margarida Calafate. “Cartografias Literárias Incertas”. In RIBEIRO, Margarida Calafate; MENESES, Maria Paula (org.). Moçambique: das palavras escritas. Porto: Afrontamento, 9-17, 2008.

PRATT, Marie-Louise. Imperial Eyes: travel writing and transculturation. New York: Routledge, 1992.

RATTANSI, Ali. “Postcolonialism and its discontents”, Economy and Society, 26 (4), p. 480-500, 1997.

SAID, Edward. Orientalism. London: Penguin, 1977.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Gramática do Tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez Editora, 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa. “Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes”. In SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, p. 23-71, 2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. Identidades, Colonizadores e Colonizados: Portugal e Moçambique. Relatório final do Projecto POCTI/41280/SOC/2001. Coimbra: CES, 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula; NUNES, João Arriscado. “Introdução. Para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistémica do mundo”. In SANTOS, Boaventura de Sousa (org.) Semear Outras Soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, p. 25-68, 2005.

SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

SPIVAK, Gayatri C. “Can the Subaltern Speak?”. In NELSON, Cary; GROSSBER, Lawrence (org.) Marxism and the Interpretation of Culture. Urbana: University of Illinois Press, p. 271-313, 1988.

THIONG’O, Ngäugäi wa. Decolonizing the Mind. The politics of language in African literature. London: Heinemann, 1986.

THINOG’O, Ngäugäi wa. Moving the Centre. The Struggle for Cultural Freedoms. Nairobi: EAEP, 1993.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Silencing the Past: power and the production of history. Boston: Beacon Press, 1995.

WALLERSTEIN, Immanuel M. The Modern World-system. New York: Academic Press, 1974.

WERBNER, Richard. “Beyond Oblivion: confronting memory crisis”. In WERBNER, Richard (org.) Memory and the Postcolony. African anthropology and the critique of power. London: Zed Books, p. 1-17, 1998.

WOLF, Eric. Europe and the People without History. Berkeley: University of California Press, 1982.

Publicado
2017-04-24